Bem-vindo ao blog da Família Figur

Está versão é preliminar. Falta acrescentar a este trabalho mapas, fotografias os documentos ainda disponíveis.

Meu Berço, Livro da Família Figur

Em 20 de outubro recebi a visita do Senhor Alberto Figur, filho de Ervino Albino Figur, que reside no Bairro Czerniewicz, em Jaraguá do Sul (SC).

Histórias, fantasias e sonhos da Família Figur

“Prejuízos materiais podem ser recuperados; dores morais, o tempo remedeia, só um dano é irreparável: quando o homem se perde a si mesmo”. John Müller- Em memória aos nossos antepassados! Para estímulo nosso! Para o bom da nossa pátria (família) = Lema de 25 de Julho.

A vida religiosa dos Teusto-russos (parte 2)

A impressão que se tem a respeito da vida religiosa dos povos da Rússia é de que os povoados e vilas se compunham apenas de luteranos, poucas congregações católicas romanas e alguns aglomerados batistas.

A vida religiosa dos Teusto-russos

A vida religiosa era parte da constituição da aldeia onde só permitia-se uma única confissão ou religião.

Encontro da Família figur

No dia 18 de janeiro de 2015 aconteceu mais um encontro da Família Figur em Veranópolis, Rio Grande Do Sul, no Recanto Medianeira.
 











Contexto Histórico Por Trás da Imigração de Nossos Antepassados

Texto do Sermão proferido na Paróquia Martin Luther, pelos 70 anos da imigração Teuto-Russa. Porto Alegre, 06/ago/2000, pelo Pastor Alfredo Gutjahr

Texto revisado por Patrícia Gutjahr, filha.

Não sabemos ao certo as causas que levaram, em 1763, os alemães da região de Baden-Württemberg (sul da Alemanha) a abandonarem a sua terra natal e emigrarem para as regiões férteis das planícies do rio Volga e da região de Wollynien, na Rússia. Uns alegam ter sido a procura por terra, motivada pela proposta irrecusável feita por Katharina II, uma princesa alemã, que ocupava o trono da monarquia dos Czares na Rússia. Outros afirmam que a causa tenha sido motivos religiosos. Os luteranos queriam viver num país, no qual pudessem praticar livremente as suas convicções religiosas.

Na época muitos outros países necessitavam de imigrantes. Os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e as Américas. Mas nenhum país fizera proposta melhor do que Katharina II, que ocupou o trono durante 33 anos. Assim, 27.000 alemães, atendendo o seu chamado, emigraram para a Rússia, sem impedimento algum de documento ou burocracia alfandegária que pudesse dificultar a sua entrada. As facilidades não pararam por aí. Foi-lhes doado a terra como propriedade; foi-lhes concedido isenção de impostos; foi-lhes oferecido auxílio financeiro para custear o início das atividades; aos imigrantes e aos seus descendentes foi concedida isenção do serviço militar. Além disso, foi-lhes assegurada plena liberdade religiosa sendo permitido construir as suas igrejas e escolas; também lhes foi garantido o direito inviolável de cultivarem a sua língua materna, os seus costumes e as suas tradições. Os imigrantes alemães corresponderam a estes privilégios e a estas vantagens e prosperaram rapidamente. Sentiam-se felizes, acolhidos e valorizados em sua nova pátria.
50 anos depois, em 1812-13 sob o reinado do Czar Alexandre I, foi feito um segunda chamado ao povo alemão da Prússia (aqui incluo os meus antepassados, tanto paternos, quanto maternos) e das Províncias de Posen, Pomerânia e de Mecklenburg, com as mesmas propostas anteriormente feitas por Katharina II. Com estes imigrantes, na sua maioria luterana, menonitas, pietistas e católicos, iniciou-se a colonização do sul da Rússia, nas regiões da Ucrânia e da Criméia. Diz-se que da mesma forma a emigração se deu por motivos religiosos confessionais.
Oitenta anos depois, em 1892 (Alexandre III), todas as colônias alemãs foram "russificadas", isto quer dizer: perderam a isenção de impostos, a isenção militar e nas escolas, além da língua alemã que vinha sendo administrada, introduziu-se também a língua russa. Esta adaptação, devido aos longos anos de vivência em solo russo, foi assimilada sem traumas.
Com o constante aumento da população, no começo do século 20, o monstro chamado falta de terra começou a rondar também a Rússia. Assim, em 1905, o governo decidiu colonizar as vastas estepes da Sibéria. Embora a Sibéria fosse até então conhecida e temida apenas como região de desterro e de trabalho forçado (nas minas de carvão) imposto aos infratores da lei, as suas imensas planícies eram favoráveis à agricultura e à criação de gado. Levas e mais levas de russos e descendentes de imigrantes alemães de todas as regiões do Wolga, de Wollynien, da Ucrânia e da Criméia rumaram para o sul da Sibéria, a algumas centenas de km da fronteira com a China, tendo como centro referencial de comércio a cidade de Slawgorod.
Lá se estabeleceram em aldeias, não muito distantes umas das outras, construíram as suas igrejas, as escolas, contrataram professores. Os feriados religiosos eram guardados e exaustivamente comemorados. Embora morassem em aldeias separadas, os luteranos, os menonitas, os católicos e os pietistas visitavam-se mutuamente, negociavam entre si, respeitavam-se e praticavam, pacificamente, a política da boa vizinhança. As terras não lhes foram doadas pelo governo, compraram-na. Embora o inverno fosse longo e rigoroso, prosperaram devido às excelentes colheitas de trigo e as abundantes pastagens para os rebanhos de gado e de ovelhas.
Em 1914 irrompeu a primeira guerra mundial. A guerra ainda não havia acabada quando, em 1917, a Rússia mergulhou em uma impiedosa e sangrenta revolução interna. A monarquia dos Czares foi deposta e assassinada. O comunismo tomou o poder. Com ele, o medo e o terror alastraram-se por todo território russo. Os comunistas usavam a bandeira da Revolução Francesa pregando liberdade, igualdade e fraternidade, prometendo ao povo o paraíso e o céu na terra. Não é de estranhar que também filhos de descendentes alemães abraçaram esta causa e engrossaram as suas fileiras. Mas não tardou para se conscientizarem que estas promessas não passavam de um engodo e de uma grande mentira. Os comunistas declararam guerra contra a religião e contra o patrimônio. O paraíso prometido tornou-se um inferno. Profundamente decepcionados, os nossos pais tiveram que aguentar calados o ódio e a ferrenha perseguição empreendida contra a Igreja. Logo contra eles, que no passado abandonaram a sua pátria para emigrarem para um país onde pudessem praticar livremente a sua confissão, a qual, através dos séculos, cultivou com amor e dedicação, nas igrejas, nas escolas e em suas famílias, visando transmiti-la inalterada aos seus descendentes. Cheios de tristeza tiveram que assistir seus conceitos cristãos serem desprezados, ridicularizados e, como se isso não bastasse, eles próprios, pelo fato de pertencerem a um credo religioso, serem declarados inimigos do poder.
As igrejas foram fechadas. Muitas escolas foram arrancadas, e em seu lugar foram construídas creches. Os pais tiveram que assistir, sem nada poder fazer, aos seus filhos serem alienados dos princípios cristãos e serem doutrinados no regime comunista-marxista. Esta situação tornou-se insuportável e, a longo prazo, insustentável. As suas propriedades foram invadidas, saqueadas e desapropriadas. De proprietários passaram a operários, para não dizer escravos, nas granjas coletivas, as assim chamadas colcozes, ou kommunas. A sua autoestima e o seu orgulho de agricultores livres foi ferido ao extremo. Por isso, hoje, todo movimento seja ele político, religioso ou social, que tem por objetivo a invasão e a desapropriação, encontra nos descendentes destes imigrantes uma grande resistência e um alto e sonoro não. Quem sentiu na própria pele entende melhor a dor que esta injustiça causa. Somos contra o acúmulo de terra, cuja finalidade é a especulação, mas entendemos que liberdade tem algo a ver com propriedade, ou melhor, que as duas coisas andam juntas e são inseparáveis. Visto deste prisma podemos afirmar, (esta afirmação não é minha, podemos encontrá-la na revista VEJA, do dia 09 de fevereiro de 2000, página 57): "O comunismo foi um equívoco ideológico que produziu uma catástrofe humana", jogando na miséria, material e espiritual, milhões de seres humanos. Escutando no sábado passado, 29 de julho de 2000, a VOZ das AMÉRICAS, noticiou-se que o atual Presidente da Rússia, Wladimir Putin, baixou um Decreto tornando obrigatório o ensino religioso em todas as escolas russas. Temos a impressão que não apenas a Natureza se vinga, quando o homem dela abusa, mas também a História.
Mais e mais a vontade de abandonar a Rússia foi crescendo, e secretamente alastrou-se como uma epidemia entre os descendentes alemães. Sair deste inferno e desta prisão, na qual eles se sentiam inseridos. Emigrar! Sim, emigrar. Um mundo de preocupações, de incertezas, mas também de esperanças encerra-se nesta palavra. Significa despedida da pátria, da terra, da horta e do quintal, do bezerro no curral; da velha macieira que o avô ainda havia plantado. É a separação da família, de parentes e de amigos, para ir ao encontro do desconhecido, colocando em jogo a sua sobrevivência, mais do que isto, colocando em jogo a sua própria existência. Conseguiram sair via Moscou aproximadamente 5000 pessoas; milhares não conseguiram sair e tiveram que voltar para o lugar de origem. Os pais que resistiam eram presos e levados para os campos de trabalho forçado. Os seus familiares nunca mais tiveram notícia deles. De Moscou para Riga, a capital da Letônia, de lá para Hammerstein, na Alemanha, onde ficaram alojados e receberam documentos alemães; do porto de Hamburg para a Ilha das Flores, no Rio de Janeiro; do Rio para Porto Alegre, para Santa Bárbara do Sul. De lá, 251 famílias luteranas para Iracema, Mondaí, SC e 84 famílias católicas para Aguinhas, São Carlos, SC. Muitos conseguiram fugir pela China, onde a fronteira era mal guarnecida.
Aqui, no meio do mato, o duro trabalho de começar tudo de novo, com o peito oprimido pela saudade da pátria, amada como mãe, mas que lhes fora madrasta. Em uma de minhas viagens de Florianópolis para Iraí, passei por São Carlos e procurei o Sr. Nicolai Beirith. Através do seu filho Rudolf eu fiquei sabendo que o seu pai Nicolai reatara a correspondência com o seu irmão que havia ficado na Sibéria. Para ele dirigi-me solicitando que escrevesse para o seu irmão e perguntasse se o sobrenome Gutjahr ainda existia na Sibéria. Após as nossas tratativas, ele perguntou-me para onde iria. Respondi-lhe que iria para Irai, a minha terra natal. Lá queria ver as laranjeiras e as bergamoteiras nas quais trepava quando menino para saborear os seus deliciosos frutos! Aquelas “laranja de umbigo”, iguais, nunca mais encontrei. Enquanto eu ia relatando, o Sr. Beirith desatou a chorar. Eu não entendi o que se passava. Quando perguntei se lhe pudesse ajudar em algo, ele fez um sinal com a mão, como quem diz: Espere! Quando a sua emoção havia passado e ele havia enxugado as suas lágrimas, olhou para mim e disse: "Tu és uma pessoa feliz, pois tu podes voltar para a tua terra natal e ver como tudo foi e era, mas eu vou morrer e a mim isto não é permitido". Naquele momento entendi o que significa ter um torrão natal, no qual se nasceu e no qual se ensaiou os primeiros passos e para o qual se pode retornar quando a saudade apertar.
Longe, para sempre, do restante dos familiares e dos amigos, a dor da saudade comprimia o peito e cortava a alma. Chorar silenciosamente, no travesseiro ou no canto da cabana, era a única expressão secretamente permitida. Só restava trabalhar duro, para esquecer a saudade e construir do nada uma nova pátria. Trocaram as imensas planícies pelo mato e pelos morros. A neve e o frio de 30 - 40 graus negativos pelo calor sufocante do verão. As casas aconchegantes pelas cabanas cobertas de taquara e de folhas de palmeiras, tendo por assoalho o chão batido e por companhia os mosquitos, as aranhas e as formigas. Porém, satisfeitos! por estarem livres! E sobreviveram! Não tenho conhecimento que algum deles tivesse enveredado pelo caminho do crime e da contravenção penal, graças ao seu caráter e aos seus princípios éticos e morais. Com suor e espírito comunitário, construíram casas, em mutirão fizeram roças, construíram igrejas e escolas. -- Eu tinha de 9 para 10 anos e frequentava a Escola Evangélica Divino Mestre em Iraí. O Pastor de então, Manfredo Hasenack, hoje aposentado e morando em São Leopoldo, incumbiu os alunos para empreenderam uma campanha em favor da Obra Gustavo Adolfo. Eu cheguei na residência de um destes teuto-russos e ofereci a campanha. O chefe da família não mostrou muito interesse; eu fiquei sabendo mais tarde que ele havia economizado os seus trocados para comprar uma carroça nova. Sua esposa, porém, uma senhora muito ativa e bem quista, disse: "Nós vamos colaborar, sim, pois, a igreja e a escola a gente sempre deve ajudar. A escola educa e a igreja mostra o caminho".
Pela fé em Deus, eles suportaram as adversidades, contribuindo por onde passaram econômica, política, religiosa e socialmente, legando aos seus descendentes um futuro melhor.



Educação e Instrução dos Filhos


Foi uma das maiores preocupações dos pais: com seis anos e idade já tínhamos que freqüentar a escola. O irmão mais velho, Alfredo, que não podia ir sozinho 8 km até a escola paroquial ficava na casa da avó durante o ano letivo. Quando o segundo irmão, o Helmuth, já podia ir à escola com seis anos, os dois iam diariamente até a escola percorrendo regularmente 8 Km, com tempo bom, com chuva, ou frio, ou geada não queria saber. Quando o terceiro, o Guilherme, que também foi um ano mais tarde, os pais e tios, eram quatro as famílias, construíram uma escolinha, onde o professor ministrava aulas à tarde, para 12 a 18 alunos, perto da casa. Um professor estrangeiro já desenvolvia as aulas na língua dos pais duas vezes por semana. Fazia o que podia, mas nós alunos sabíamos mais “brasileiro” do que ele. Um exemplo: quando um aluno perguntou “como a coruja entrou num pau oco”, ele primeiro consultou o dicionário em casa e no outro dia a resposta foi: “É uma expressão estranha; não é brasileira”. Mas conjugações e variações gramaticais eram muito bem ensinadas. As outras matérias como leitura, aritmética e conhecimentos gerais melhoraram muito.
Com seis anos o irmão Alfredo, como não podia ir sozinho até a escola 8 km sozinho, ficou na casa do avô para freqüentar a escola paroquial. Quando o segundo irmão Helmuth já podia ir à escola, cada dia os dois tinham que caminhar da escola até a vila. Também o terceiro filho, Guilherme, com seis anos cada dia deveria ir á escola, na maioria das vezes a pé, porque os cavalos eram ocupados para o trabalho na roça. Não importava chuva ou sol, tempo agradável, dias de frio ou geada, pois não eram motivos para ficar em casa e gazear as aulas.
O que ajudou foi o intercâmbio com outras pessoas e principalmente com os tropeiros que despertavam a curiosidade dos meninos querendo saber cada vez mais e aperfeiçoando a sua linguagem pela conversa. Mas o mais importante desde pequenos era a escrita e a leitura.
Não era somente isso que se aprendia na escola, mas em casa havia uma ordem rígida e bem programada, para que tudo fosse aproveitado e mais tarde pudesse ser de alguma serventia na vida. Desde os primeiros anos havia material de leitura, religiosos como o Kirchenblatt ou Lutheraner, ou Walther-Liga-Bote, mais tarde o Jovem Luterano (JELB), almanaquese anuários como Lutherkalender, Synodalberichte e o Jornal Die Serra Post, mais tarde o Correio Serrano. Não era simplesmente a presença desse material, mas o usoe a leitura do mesmo era o mais importante. Assim, que durante os anos escolares como depois pela leitura, todos os filhos adquiriram um bom lastro de conhecimento. A mãe, apesar de cuidar bem da família, sempre tinha tempo para a leitura e era bastante versada em história e conhecimento geral. Talvez fosse a mulher mais lida e informada na região toda.
O LEMA NA EDUCAÇÃO: Além de um conhecimento teórico, o que vale é o prático na vida. Assim os meninos, que eram os mais velhos, desde pequenos aprenderam que, se sabem sujar roupa, devem saber também lavar a mesma. Todos deviam aprender a arte doméstica, isto é, remendar roupa, cozinhar, assar pão, saber carnear porcos e galinhas etc. Pois somente era repetido: vocês não sabem o que vocês podem precisar no futuro e é bom quando vocês já aprenderam isto em casa. Mais tarde, quando maiores e as futuras noras os viessem visitar, todos deveriam ajudar na cozinha onde ouviam certos conselhos, ditos assim, meio por acaso, como: “Comida gostosa na mesa e cama fofa mantém a família unida” ou “Quem não souber fazer bem o serviço caseiro não pode mandar fazer melhor”, ou “Asseio e ordem em casa é o melhor convite para as visitas”, entre outros. Antes dos filhos aprenderem um oficio ou profissão deveriam demonstrar que eram colono, agricultor que soubesse lavrar, plantar, colher e tratar os animais devidamente. O Pai Gottlieb lamentou muitas vezes que ele não teve a oportunidade de aprender o oficio de que gostava, mas também não disse qual seria.
Ele recomendava aos filhos: “Aprendam a ser bons agricultores porque, se depois vocês não se derem bem na profissão que escolheram o Brasil ainda tem bastante terra para vocês se sustentarem como colonos. E ninguém me diga que não tenha aprendido a profissão mais nobre, que é a de ser agricultor”.
         A CEGONHA: Uma visita, vendo tantas boquinhas ao redor e todos sadios e querendo se tornar nteressante perguntou, quandoa mesa foi posta: “Certamente a cegonha gostou de vir aqui muitas vezes para trazer tantas crianças?” Mamãe Lidia não titubeou na resposta: “sim, a cegonha vinha regularmente aqui; nós escolhemos sempre as crianças mais sadias, fortes, inteligentes e voluntariosas e mandamos a cegonha levar as outras menos inteligentes, preguiçosas, defeituosas e trouxinhas para distribuir do outro lado dos montes. Mas as nossas nasceram em casa e não precisavam de cegonha”. O “engraçadinho” um pouco desnorteado logo começou outra conversa. ORDEM E OBEDIÊNCIA ERA LEI!
         Mamãe Lidia tinha como lema: “Mais dinheiro para o padeiro do que para o médico”. Quando as crianças se tornavam mais crescidas, procura a dar uma orientação mais acurada a respeito da vida familiar dizendo e repetindo muitas vezes? “Um alimento sadio e nutritivo, trabalho regular e cama fofa conservam a família mais unida.”
Observando a descendência de Gottlieb e Lidia Jubin Figur, relativamente às suas atividades e profissões, apresenta-se um quadro bastante diversificado. Vejamos: pastores, professores, técnicos agrícolas, carpinteiros, marceneiros, decoradores, mecânicos, torneiros mecânicos, eletricistas, técnicos em contabilidade, técnicos em serviços de escritório e de administração, advogados, secretários, bancários, agricultores e horticultores, inclusive muitos sem terra, militares, funcionários públicos e burocráticos, entre outras profissões.
Primeiro a Roça: A divisa do pai era: antes de aprender um oficio, todos os filhos deveriam conhecer os serviços da roça. Ele dizia: “Se alguém é tão atrasado que não pode saber fazer o serviço da roça também não é capaz de aprender um oficio. Se aprender o oficio e não der certo, sempre resta muita terra no Brasil para agricultura. Que nenhum filho meu venha me acusar de que não ensinei a profissão mais rudimentar, mas de melhor subsistência”.
Dos doze filhos, apenas três ficaram na roça. Todos os outros aprenderam ofícios ou profissões rendosas para garantir-lhes a vida, mas sempre honestas.
O motivo de tal atitude, como ele muitas vezes lamentava, era: “eu não tive a oportunidade de aprender o oficio que eu queria, porque a necessidade na roça e a falta de condições o impediram”.
Ao contratar alguém para um serviço, o papai Gottlieb tinha um segredo: os pretendentes não recebiam resposta de emprego antes que não tivessem almoçado ou jantado. O modo de servir, a maneira como deixavam a mesa e o asseio que apresentavam eram decisivos. Cinco ou seis candidatos nunca chegaram a saber, porque não recebiam serviço ou emprego. Mas o papai nunca foi enganado por quem que fosse dos empregados.
DABBERN: é a expressão que os judeus usavam para designar as suas orações. Muitas vezes alguns judeus pediam pouso na casa de Gottlieb Figur, quando víamos as cerimônias em suas orações matutinas. Também ao levar o leite à vila, víamos judeus em casa ou mesmo no caminho, com carroça parada na estrada fazendo suas orações.
A devoção deles era toda concentração, não permitindo que algo os desviasse do seu dabberra. Respeitavam ainda a recomendação do Velho Testamento usando uma miniatura e ara de madeira, altarzinho, na testa e na mão esquerda presa uma fita, tipo trena, com símbolos ou letras hebraicas, talvez as leis. Enliavam a fita na cabeça e no braço esquerdo firmando assim a ara e, na mão, o altarzinho. Ao repetir suas orações não se desviavam de sua concentração por motivo ou força alguma e, na estrada, não dava passagem a quem quer que fosse.
Aos sábados de manhã o Tab, ancião, reunia seus filhos de 5 a 14 anos onde, ele vestido com uma pala xadrez em amarelo e marrom e um barrete preto, examinava cada uma das crianças se sabia a lição de cor e dava lição de religião. As crianças não sentavam como estamos acostumados, mas andavam soltas pela sala e até conversavam enquanto outros repetiam sua lição. Igualmente os adultos reunidos não obedeciam a uma ordem restrita; alguns recitavam orações, outros conversavam e outros liam livros em voz alta: o seu dabberra era um murmúrio confuso.
Constatamos como os antigos falavam de uma Juden-Sclnde e como ela funcionava. Segundo a lei, os judeus mesmos não podiam sacrificar os animais ou as aves para consumo. Quando o Schecter, açougueiro, ou sacerdote deles não o fazia, pediam a algum estranho ou aos rapazes que vendiam leite que sacrificassem o animal sem decepar completamente a cabeça. Evitavam ao máximo a contaminação com banha ou carne de porco.


Motivos da imigração


        Não chegamos, a saber, qual o real motivo, mas a vovó Louise contou que o “vovô”, como era conhecido o Sr. Rudolf Figur, teria voltado certo dia para casa todo nervoso e desgostoso tendo dito: “Antes de eu cometer uma asneira ou uma injustiça, vou para a América, terra de liberdade e de progresso, onde em pouco tempo poderei me tornar independente e um grande proprietário”. Mas qual seria o motivo de seu nervosismo não disse. Parece que fora sorteado para o serviço militar, que era um serviço de sete anos sem voltar para casa uma vez se quer, e também recomendado a não receber noticias de familiares. Isto parecia ser pior do que prisão, pois ainda estava sujeito a risco de vida nas campanhas de repressão. Havia terminado o tempo de “Grande Privilégio” há uns 5 anos e o Imperador Alexandre III queria introduzir a forçar a russificação de todo o território russo. Uma das exigências era, para que os que dessem baixa tivessem dispensa do serviço militar, que deveriam adaptar um nome russo, isto é, “nacional”, como chamavam. Havia prenuncias de insubordinação e revolta contra as novas medidas em todo o império russo. Talvez fosse esse o motivo principal e último da resolução de emigrar. Mas também havia outro, não menos difícil e mais convidativo: eram muitos os agentes de emigração contratando interessados em procurar novas terras e bons empregos no Novo Mundo; uma vida que fosse livre e independente e onde tivessem a ventura de um enriquecimento rápido.
         Serviço Militar: Para escapar do serviço Militar, muitos jovens saiam antes de serem sorteados. Outros provocavam alguma ferida na perna, prensavam-se em uma solução de sulfato de cobre, o que nunca mais deixava sará-la. Temos visto isso no Tio-avô August Maass e em outros desses teuto-russos.
         Aqui cabe mais uma observação de que quase todos ou a totalidade dos atletas da Polônia, Ucrânia, Lituânia (Lietuva) e da Rússia, propriamente dita, tinham a aparência física do povo germânico e não se notando tipos físicos de magiares, tártaros ou asiáticos. Parece que os imigrantes, para formar a “Grande Muralha” contra os cossacos de Don e Zaparogos, no tempo de Catarina, a Grande, deixaram a uma característica genética em parte do povo russo.




O Primeiro Trabalho de Rudolf Figur

O primeiro trabalho, o senhor Rudolf conseguiu em uma mina de ferro, perto de Sabará-MG. A família ficou morando no Vale do Rio Doce, afastada alguns quilômetros do emprego, de onde a cada quatorze dias poderia visitá-la. A região e o clima eram muito diferentes do que já estavam acostumados. Muito calor, muita chuva e o que mais estranhavam era a quantidade de cobras, que a cada enxurrada vinham arrastadas pela correnteza. A vovó Loiuse, contava que certa vez passara por maus momentos com os dois filhos quando uma Urutu perseguida pelos seus cachorros veio até dentro da casa e se abrigou de baixo da mesa, fazendo-a se abrigar em cima da mesa por mais de uma hora até a cobra ir embora. Essas circunstâncias motivaram a mudança para outro lugar, e lá se foram para outro lugar, onde o clima fosse mais ameno e sem tantas cobras perigosas. E lá se foram para o Rio de Janeiro, para se incorporar a onda de imigrantes, principalmente russos e poloneses que migravam para o Paraná, onde o clima era mais favorável.
NOVOS RUMOS: embarcados em um navio costeiro, encontraram um ex-marujo alemão, que os desaconselhou a irem a Campo de Tenente, ou a uma das colonizações do Paraná. Na região haviam muitos polacos, russos e muito teuto-russos, conhecidos como russos-alemães, na Região da Lapa e Rio Negro, onde fundaram seus aglomerados como Friedrichtal e Mariental bem como bucovinos em Rio Negro e Mafra. Mas o seu novo amigo soube pegá-los em um ponto mais fraco, oferecendo uma opção melhor: São Francisco, Blumenau ou Joinvile, em Santa Catarina, onde já havia colônias alemãs a mais de 40 anos, com todos os recursos e mais possibilidades de emprego. A possível aquisição de terras por preços e condições muito favoráveis era bastante convidativa. Mas o que fazer se o resto do dinheiro que tinham era suficiente para comprar as passagens somente a te Paranaguá-PR? Também ali o novo amigo apresentou uma solução para chegarem até São Francisco. Eles deveriam esconder-se entre as bagagens do navio até que o mesmo zarpasse do porto e, quando estivessem em alto mar, seriam descobertos, mas a marujada não iria voltar para deixá-los no porto. Na primeira escala, porém, seriam postos em terra. Felizmente já estariam no ponto almejado embora devessem chorar e lamentar o seu azar fingido por terem perdido o destino. Os marujos os deixariam em São Francisco-SC com um sentimento de gozação, mas dando uma lição aos “gringos” para que conhecessem a esperteza dos brasileiros.
         Dito e feito deu tudo certo! Mesmo ouvindo alguns nomes impróprios e xingões dos marinheiros, mas fariam como se estivessem agradecidos por terem ajudado a chegar até lá. Como não sabiam o que os marujos esbravejavam, os ‘pretos’ sentir-se-iam satisfeitos em poder “xingar” bastante uns “burros alemães”, caroneiros e molestadores. Mas a família teve mesmo sorte. Quando desembarcados, os homens se safaram indo imediatamente para a cidade de modo a não serem alcançados pelos marujos para tirar algumas das poucas coisas que tinham como pagamento pela “carona”. As mulheres e as crianças pequenas chorando no cais não seriam molestadas pelos marujos. À noite os homens voltaram para buscar os seus familiares e os seus pertences (que não eram muitos), mas chegaram onde queriam. Logo encontraram uns “Landsmaenner”, patrícios alemães com os quais podiam entender-se bem, recebendo as primeiras orientações e ajuda, além de darem uma mão para estabelecê-los. Foram recebidos com alegria e contentamento, porque vieram mais “Landsleute”. Esses patrícios já um tanto práticos nas lidas e atividades agrícolas, os levaram por pinguelas, picadas, caminhos estreitos e tortuosos, através de matas cerradas até Jaraguá do Sul-SC, onde foram construir seu lar e seu futuro. Escolheram o lote levantando um rancho com lascas de árvores e troncos de palmitos, cobrindo-o com as folhas dos “palmídeos”, cujo miolo deu também o primeiro alimento. Havia abundância de peixes no rio. Também conheceram o “aipi”, aipim, cará, taiá e frutos como banana, goiaba e outros. Em pouco tempo já produziam tudo para subsistência. Pensavam em construir uma morada mais confortável, o que não seria difícil, pois manejavam bem as ferramentas e eram acostumados a lidar com madeira em sua terra natal. Sabiam aproveitá-la bem. O machado, o serrote, os machadinhos e o enxó deram forma e utilidade à madeira abundante. A nova colônia para onde vieram logo recebeu novos moradores. A orientação e a ajuda dos que já conheciam o Brasil eram de muita valia para os recém-chegados. Em poucos anos a sua “Tiefe”, como chamavam as linhas, era um lugar próspero e desenvolvido.
         Inicialmente a vida social deixava muito a desejar. Principalmente na escola, onde se apresentavam como “professores” elementos desqualificados e moralmente pouco recomendáveis. Eram soldados desertores, marinheiros fugidos, barbeiros e alfaiates bancorrotados, entre outros e eram sustentados pelos colonos, porém nada entendiam de pedagogia e educação. Esses elementos felizmente logo davam no PE, antes que pudessem ser penalizados. Com o correr do tempo isso mudou completamente e as escolas foram melhor aparelhadas com professores capacitados ministrando aulas. Por isso o pobre GOTTLIEB foi privado de instrução com tais “professores” vagabundos. Mal sabia assinar seu nome por frequentou três meses de aula. Além disso, tinha que ajudar seu pai na lida da roça e no sustento da família.
         Espiritualmente os protestantes eram servidos regularmente ainda que intervalos maiores por causa da distância, por pastores luteranos da “Gottes-Kasten Synode” sustentados por missões da Alemanha, mas eram pastores leais e fiéis. Só para citar um exemplo: o velho pastor Schuluenzen não só atendia Blumenau e Jaraguá, em Santa Catarina, como também atendia Rio Negro, Mariental, Friedrischstal, Papagaios Novos, Palmeira e outros lugares no Paraná.
         Para reforças o orçamento familiar e, com planos de emancipar GOTTLIEB, o filho mais velho, Rudolf Figur empregou-se na HERMANN WEEG. Classificava fumo, acondicionava manteiga e banha em barricas de madeira, empacotava carne seca para remeter essas mercadorias pelo Porto de São Francisco ao Rio de Janeiro. Com o ganho regular e as economias da família providenciaram a aquisição de terras para o filho mais velho que pretendia se casar, com 20 anos de idade, com Lidia Jubin de 19 anos.
         GOTTLIEB depois de 3 anos de casado, instalando-se já por conta própria, soube de novas colonizações em Ijuí e Erechim no Rio Grande do Sul, onde as terras sendo mais planas eram próprias para a cultura do trigo, milho, aveia, cevada, centeio e batatas, como na Rússia. Não custou muito para a família se mudar para essas regiões mais propicias às culturas europeias. De acordo com o plano feito GOTTLIEB com a família, seus sogros e cunhados, iriam se aventurar a viagem e explorar as condições e o ambiente. Depois de dois meses de viagem chegaram a Erechim. Nessa época também vieram outros parentes para a colônia de Ijuí o que atraiu os demais membros da Família FIGUR a aproveitarem as condições favoráveis e convidativas do Rio Grande do Sul.
         A escolha do lote de Rudolf Figur não foi difícil, pois viera com alguns recursos. Além disso, os filhos de Gustav, recém-casado com Ottília Schade, Emília, solteira, que logo casou com Gustav Jubin, Roberto e Alexandre, ambos solteiros, ajudaram na instalação da colônia (que seria onde hoje está instalada a nova prefeitura de Getúlio Vargas).
         Com personalidade, caráter, iniciativa de ação e visão prática não custou construir uma casa confortável e de boa aparência, demonstrando gosto pela estética. A casa chamava atenção de quem por lá passasse. Com trabalho e muita disposição as plantações mostravam capricho e desenvolvimento. Com boas colheitas, apesar de uma praga de gafanhotos ter devorado as culturas da primavera, mas que não foi motivo para desanimar. Após poucos anos, foi desafiado a tomar novas iniciativas. O progresso e o crescimento da vila tornaram premente e muito necessário o estabelecimento de um meio de transporte da Estação Ferroviária até o centro da vila, correspondendo a uma distância de 5 Km. Em pouco tempo os viajantes podiam contar com uma condução regular e cômoda. O Sr Rudolf Figur, conhecendo a fabrica de seges, ou jardineiras de Jaraguá-SC, importou dois desses veículos e constituiu uma “frota de transporte” de seges. No horário do trem de passageiros elas levavam os viajantes à Estação, ou de lá até a vila. Mas as viagens não se resumiam a esse trecho somente, também atingiam o interior e vilas ou cidades mais distantes, como Sananduva, Sete de Setembro, hoje Charua, Lagoa Vermelha e outras. O que chamava a atenção era a tal “Brautkutsche”, sege ou jardineira de noivas. Os que não queriam ir de carroça ou a cavalo até o casamento civil ou religioso alugavam um coche, isto é, a “sege nupcial” (sege=coche).
         Em 1923 Rudolf Figur vendeu a “frota” para a firma Bianchi, porque o filho Roberto havia se casado e o filho Alexandre não quis continuar no ramo de transporte de passageiros.

         Mecanizar a agricultura era o sonho de Rudolf Figur. Em 1925 ele comprou a primeira trilhadeira manual da firma Heidrich, de Montenegro-RS em condições muito favoráveis e boas. Ele não titubeou em adquirir esse mecanismo, tocado por um grande volante que 2 ou 3 homens moviam. Era o único da região, e muito admirado por muitos curiosos, que também experimentavam mover essa trilhadeira com bastante esforço e em compasso ritmado.

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