O primeiro trabalho, o senhor Rudolf
conseguiu em uma mina de ferro, perto de Sabará-MG. A família ficou morando no
Vale do Rio Doce, afastada alguns quilômetros do emprego, de onde a cada
quatorze dias poderia visitá-la. A região e o clima eram muito diferentes do
que já estavam acostumados. Muito calor, muita chuva e o que mais estranhavam
era a quantidade de cobras, que a cada enxurrada vinham arrastadas pela
correnteza. A vovó Loiuse, contava que certa vez passara por maus momentos com
os dois filhos quando uma Urutu perseguida pelos seus cachorros veio até dentro
da casa e se abrigou de baixo da mesa, fazendo-a se abrigar em cima da mesa por
mais de uma hora até a cobra ir embora. Essas circunstâncias motivaram a
mudança para outro lugar, e lá se foram para outro lugar, onde o clima fosse
mais ameno e sem tantas cobras perigosas. E lá se foram para o Rio de Janeiro,
para se incorporar a onda de imigrantes, principalmente russos e poloneses que
migravam para o Paraná, onde o clima era mais favorável.
NOVOS RUMOS: embarcados em um navio costeiro,
encontraram um ex-marujo alemão, que os desaconselhou a irem a Campo de
Tenente, ou a uma das colonizações do Paraná. Na região haviam muitos polacos,
russos e muito teuto-russos, conhecidos como russos-alemães, na Região da Lapa
e Rio Negro, onde fundaram seus aglomerados como Friedrichtal e Mariental bem
como bucovinos em Rio Negro e Mafra. Mas o seu novo amigo soube pegá-los em um
ponto mais fraco, oferecendo uma opção melhor: São Francisco, Blumenau ou
Joinvile, em Santa Catarina, onde já havia colônias alemãs a mais de 40 anos,
com todos os recursos e mais possibilidades de emprego. A possível aquisição de
terras por preços e condições muito favoráveis era bastante convidativa. Mas o
que fazer se o resto do dinheiro que tinham era suficiente para comprar as
passagens somente a te Paranaguá-PR? Também ali o novo amigo apresentou uma
solução para chegarem até São Francisco. Eles deveriam esconder-se entre as
bagagens do navio até que o mesmo zarpasse do porto e, quando estivessem em
alto mar, seriam descobertos, mas a marujada não iria voltar para deixá-los no
porto. Na primeira escala, porém, seriam postos em terra. Felizmente já
estariam no ponto almejado embora devessem chorar e lamentar o seu azar fingido
por terem perdido o destino. Os marujos os deixariam em São Francisco-SC com um
sentimento de gozação, mas dando uma lição aos “gringos” para que conhecessem a
esperteza dos brasileiros.
Dito
e feito deu tudo certo! Mesmo ouvindo alguns nomes impróprios e xingões dos marinheiros,
mas fariam como se estivessem agradecidos por terem ajudado a chegar até lá.
Como não sabiam o que os marujos esbravejavam, os ‘pretos’ sentir-se-iam
satisfeitos em poder “xingar” bastante uns “burros alemães”, caroneiros e
molestadores. Mas a família teve mesmo sorte. Quando desembarcados, os homens
se safaram indo imediatamente para a cidade de modo a não serem alcançados
pelos marujos para tirar algumas das poucas coisas que tinham como pagamento
pela “carona”. As mulheres e as crianças pequenas chorando no cais não seriam
molestadas pelos marujos. À noite os homens voltaram para buscar os seus
familiares e os seus pertences (que não eram muitos), mas chegaram onde
queriam. Logo encontraram uns “Landsmaenner”, patrícios alemães com os quais podiam
entender-se bem, recebendo as primeiras orientações e ajuda, além de darem uma
mão para estabelecê-los. Foram recebidos com alegria e contentamento, porque
vieram mais “Landsleute”. Esses patrícios já um tanto práticos nas lidas e
atividades agrícolas, os levaram por pinguelas, picadas, caminhos estreitos e
tortuosos, através de matas cerradas até Jaraguá do Sul-SC, onde foram
construir seu lar e seu futuro. Escolheram o lote levantando um rancho com
lascas de árvores e troncos de palmitos, cobrindo-o com as folhas dos
“palmídeos”, cujo miolo deu também o primeiro alimento. Havia abundância de
peixes no rio. Também conheceram o “aipi”, aipim, cará, taiá e frutos como
banana, goiaba e outros. Em pouco tempo já produziam tudo para subsistência.
Pensavam em construir uma morada mais confortável, o que não seria difícil,
pois manejavam bem as ferramentas e eram acostumados a lidar com madeira em sua
terra natal. Sabiam aproveitá-la bem. O machado, o serrote, os machadinhos e o
enxó deram forma e utilidade à madeira abundante. A nova colônia para onde
vieram logo recebeu novos moradores. A orientação e a ajuda dos que já
conheciam o Brasil eram de muita valia para os recém-chegados. Em poucos anos a
sua “Tiefe”, como chamavam as linhas, era um lugar próspero e desenvolvido.
Inicialmente
a vida social deixava muito a desejar. Principalmente na escola, onde se
apresentavam como “professores” elementos desqualificados e moralmente pouco
recomendáveis. Eram soldados desertores, marinheiros fugidos, barbeiros e alfaiates
bancorrotados, entre outros e eram sustentados pelos colonos, porém nada
entendiam de pedagogia e educação. Esses elementos felizmente logo davam no PE,
antes que pudessem ser penalizados. Com o correr do tempo isso mudou
completamente e as escolas foram melhor aparelhadas com professores capacitados
ministrando aulas. Por isso o pobre GOTTLIEB foi privado de instrução com tais
“professores” vagabundos. Mal sabia assinar seu nome por frequentou três meses
de aula. Além disso, tinha que ajudar seu pai na lida da roça e no sustento da
família.
Espiritualmente
os protestantes eram servidos regularmente ainda que intervalos maiores por
causa da distância, por pastores luteranos da “Gottes-Kasten Synode”
sustentados por missões da Alemanha, mas eram pastores leais e fiéis. Só para
citar um exemplo: o velho pastor Schuluenzen não só atendia Blumenau e Jaraguá,
em Santa Catarina, como também atendia Rio Negro, Mariental, Friedrischstal,
Papagaios Novos, Palmeira e outros lugares no Paraná.
Para
reforças o orçamento familiar e, com planos de emancipar GOTTLIEB, o filho mais
velho, Rudolf Figur empregou-se na HERMANN WEEG. Classificava fumo,
acondicionava manteiga e banha em barricas de madeira, empacotava carne seca
para remeter essas mercadorias pelo Porto de São Francisco ao Rio de Janeiro.
Com o ganho regular e as economias da família providenciaram a aquisição de
terras para o filho mais velho que pretendia se casar, com 20 anos de idade,
com Lidia Jubin de 19 anos.
GOTTLIEB
depois de 3 anos de casado, instalando-se já por conta própria, soube de novas
colonizações em Ijuí e Erechim no Rio Grande do Sul, onde as terras sendo mais
planas eram próprias para a cultura do trigo, milho, aveia, cevada, centeio e
batatas, como na Rússia. Não custou muito para a família se mudar para essas
regiões mais propicias às culturas europeias. De acordo com o plano feito
GOTTLIEB com a família, seus sogros e cunhados, iriam se aventurar a viagem e
explorar as condições e o ambiente. Depois de dois meses de viagem chegaram a
Erechim. Nessa época também vieram outros parentes para a colônia de Ijuí o que
atraiu os demais membros da Família FIGUR a aproveitarem as condições
favoráveis e convidativas do Rio Grande do Sul.
A
escolha do lote de Rudolf Figur não foi difícil, pois viera com alguns
recursos. Além disso, os filhos de Gustav, recém-casado com Ottília Schade,
Emília, solteira, que logo casou com Gustav Jubin, Roberto e Alexandre, ambos
solteiros, ajudaram na instalação da colônia (que seria onde hoje está
instalada a nova prefeitura de Getúlio Vargas).
Com
personalidade, caráter, iniciativa de ação e visão prática não custou construir
uma casa confortável e de boa aparência, demonstrando gosto pela estética. A
casa chamava atenção de quem por lá passasse. Com trabalho e muita disposição
as plantações mostravam capricho e desenvolvimento. Com boas colheitas, apesar
de uma praga de gafanhotos ter devorado as culturas da primavera, mas que não
foi motivo para desanimar. Após poucos anos, foi desafiado a tomar novas iniciativas.
O progresso e o crescimento da vila tornaram premente e muito necessário o
estabelecimento de um meio de transporte da Estação Ferroviária até o centro da
vila, correspondendo a uma distância de 5 Km. Em pouco tempo os viajantes
podiam contar com uma condução regular e cômoda. O Sr Rudolf Figur, conhecendo
a fabrica de seges, ou jardineiras de Jaraguá-SC, importou dois desses veículos
e constituiu uma “frota de transporte” de seges. No horário do trem de
passageiros elas levavam os viajantes à Estação, ou de lá até a vila. Mas as
viagens não se resumiam a esse trecho somente, também atingiam o interior e
vilas ou cidades mais distantes, como Sananduva, Sete de Setembro, hoje Charua,
Lagoa Vermelha e outras. O que chamava a atenção era a tal “Brautkutsche”, sege
ou jardineira de noivas. Os que não queriam ir de carroça ou a cavalo até o
casamento civil ou religioso alugavam um coche, isto é, a “sege nupcial”
(sege=coche).
Em
1923 Rudolf Figur vendeu a “frota” para a firma Bianchi, porque o filho Roberto
havia se casado e o filho Alexandre não quis continuar no ramo de transporte de
passageiros.
Mecanizar
a agricultura era o sonho de Rudolf Figur. Em 1925 ele comprou a primeira
trilhadeira manual da firma Heidrich, de Montenegro-RS em condições muito favoráveis
e boas. Ele não titubeou em adquirir esse mecanismo, tocado por um grande
volante que 2 ou 3 homens moviam. Era o único da região, e muito admirado por
muitos curiosos, que também experimentavam mover essa trilhadeira com bastante
esforço e em compasso ritmado.
0 comentários:
Postar um comentário